Segundo o relato de alguns professores, a docência afirma-se na pessoa também como vocação. Ser professor é a possibilidade de exercer sua vocação, de atender o chamado, de cumprir a missão. Ser professor e estar na docência é algo que está no sangue, é hereditário. O vocábulo “Vocação”, do latim vocatione, significa ato de chamar, escolha, chamamento, predestinação. (AURÉLIO, 1999). Assim, também, o vocábulo "professor" que na origem do termo fornecia identidade à profissão: "Professor: o que professa fé e fidelidade aos princípios da instituição e se doa sacerdotalmente aos alunos" (KRENTZ, 1986, p.13).
Como diz o Professor Ricardo: a docência já tá!
“A docência já tá (...) todo mundo [na família] sempre acabou dando aula, de uma forma ou outra. Só falta a menor...digo tu tem que dar aula também!” (Ricardo, 32, Prof. de Eletrônica, Relato de Vida, linhas 14-15)
A docência vem da família, está no sangue. Se a irmã menor "ainda" não teve a possibilidade de ser professora, isso é uma questão que efetivamente está a faltar e o anúncio é tu tem que dar aula também, e assim cumprir a missão, a vocação que vem de toda família.
“Eu acredito que o momento que eu cheguei hoje a dar aula, ele não começou de uma hora para outra (...). E eu tenho comigo, e pode ser até que eu esteja enganado, mas que a minha tá no sangue. Eu tenho isso de explicar as coisas, de tentar passar conhecimento, de ser solidário com as pessoas, com aquilo que eu tenho, com aquilo que eu posso oferecer, isso começa na minha infância. Ela não começou de uma hora para outra. Então, essa vontade que eu tenho assim de ajudar as pessoas naquilo que eu tenho (...) e eu acredito isso hoje me ajuda muito, por eu ter essa ... por eu ser assim... essa personalidade como forma de vida” (José Flori, 51, Prof. Desenho Técnico e CAD, Relato de Vida, linhas 24-32).
A docência tá no sangue. Eu tenho isso, diz Professor José Flori. A docência está com ele, vem com ele, a entidade professor está nele, é ele, a docência incorpora-se nele. O fato do professor carregar consigo isso - esse jeito de ser - de explicar as coisas, de tentar passar conhecimento, de ser solidário afirma-o e o constitui como docente. Professor José Flori se afirma professor por ser assim, essa personalidade como forma de vida. A docência é incorporada como forma de vida, como jeito de ser e viver.
A vocação se manifesta como uma dádiva. Ser professor é uma dádiva, é ter condições para assim ser.
“Eu considero que ela é uma profissão muito importante, ela é uma, eu acho que quem tem vocação para ela é uma dádiva, porque uma coisa é tu querer estar numa sala de aula dando aula e outra coisa é ter condições de dar aula”. (José Flori, 51, Prof. Desenho Técnico e CAD, Relato de Vida, linhas 809-812)
Assim, quando questionado como aprendeu a dar aula, o professor entende que, se de um lado, aprendeu com os cursos que realizou, de outro, acha que vem de dentro, de algo que está no sangue, da vocação para ser professor:
“Pois é né tchê! (risos) É como eu te disse, nos cursos do sindicato, que eu aprendi para monitor Sindical eram cursos tão bons, né, que eu acredito que aí eu aprendi um pouco. E o outro pouco eu acho que vem de dentro. Aquilo que eu disse lá no início pra ti que tá no sangue. Que uma coisa é tu querer ser professor! E outra coisa é tu já ter uma, sabe, uma vocação pra coisa” (José Flori, 51, Prof. Desenho Técnico e CAD, Relato de Vida, linhas 610-614)
Para o Professor Ademar, ser professor, para além de uma maneira de ser que incentiva e que se doa aos outros, é uma luz.
“(...) eu acho que é uma luz, uma luz que bate no cara...acho também a maneira de ser, (...) hoje, [um aluno] ele me ligou e disse: Ó professor, tu é insuperável, não existe outro, não tem. Outro professor assim eu nunca vi na minha vida e acho que nunca vou ver, porque tu não mede esforços, tu tá presente, tu...quando a gente tá com dificuldade, tu tá aí, tá presente. (...) então...isso incentiva a cada vez mais ser prestativo com os alunos. Então eu...eu...me realizo fazendo isso né” (Ademar, 50, Prof. de Automação Industrial, Relato de Vida, linhas 828-838).
A docência é uma luz que ilumina o caminho dos alunos, uma estrela que brilha, que faz constelação na relação com o outro. Uma luz, uma estrela presente na vida dos alunos, que não mede esforços para reluzir, manifestação corporeificada da doação, do estímulo ao outro e da realização plena de si.