(5) O ritual da avaliação

A avaliação parece ser tema e prática sempre conflitiva na escola. A reprovação também. Por conseqüência, o Conselho de Classe é o lugar, o espaço onde se manifesta tal dimensão, diria que até de uma certa resistência do poder sagrado da docência, um resquício do poder divino do professor. Este é, ainda, um dos lugares em que o professor pode decidir rumos e vidas. É um lugar sagrado, uma forma de fazer da sua 'valorosa' profissão um lugar diferente, não profanado.

Avaliar, aferir conhecimento, ter nas mãos os destinos de aprovação e reprovação é, de certa forma, a manifestação em ato do sagrado, do divino. É discriminar os mais capazes dos menos capazes, celebrando a passagem dos obstáculos à travessia do portal do conhecimento técnico, no qual só alguns têm condições de obtenção. Assim, é o professor que diz julgando quem é competente e quem, por sua vez, é incompetente para avançar na busca do saber.

Essa outra dimensão (comparando-se ao paraíso) abre-se somente para alguns, para poucos, para os heterogêneos, para os qualitativamente diferentes. E quem julga quem são os qualitativamente diferentes, os mais capazes no espaço da escola, é o professor, figura sagrada. Professores que se articulam, em pré-conselhos de classe, e fecham conceitos sobre reprovações de alunos, como manifestação própria de um corporativismo cego. A prepotência do avaliador, que a tudo julga e a tudo submete a partir de sua lógica de pensamento. Desconsidera o outro, negando-o.

Já dizia Bedin (2004, p.168) que "os Conselhos de Classe são um laboratório onde se testa a temperatura da Escola e se faz a radiografia que permite perceber suas debilidades e os nós que atravancam as relações". De fato, não são poucas as debilidades que percebi e captei nos Conselhos de Classe. Julgamentos, negação do outro, intransigência e incompreensão são algumas das emoções que subjazem as relações nos espaços do Conselho. É ali que se manifestam a escuta que não escuta, o diálogo-monólogo e a prepotência do poder da avaliação unilateral e insensível. Mas há, também, brilhos e centelhas de efetivo aconselhamento aos alunos e às turmas, o comprometimento com a aprendizagem, o respeito ao outro e a abertura para novas e outras concepções de ensinar e aprender.