(3) Outros nervosismos, mais pavores e alguns alívios

Vestígios traumáticos, marcas de insegurança. É de dentro das preocupações e dos nervosismos das primeiras aulas, ou seja, é enfrentando o cotidiano da sala de aula e encarando o fato de estar docente, que se gesta a possibilidade de se criar condições para se aprender sendo professor, pegando as manhas. Para o Professor Ademar, a estratégia usada para superar o nervosismo - além do cigarro, que correu solto, e da preparação dos tempos da aula - foi de estabelecer uma interação com os alunos no sentido de aliviar as tensões, o que surtiu efeito, e começou a sentir que dava resultado.

“E depois a 1a aula né, foi traumática também. Cigarro correu solto e eu fumei uma carteira e meia por dia, eu fumava... mais em função do nervosismo” (Ademar, 50, Prof. de Automação Industrial, Relato de Vida, linhas 284-285)

“Aí chegou assim né... nervoso, muito... porque a minha maior preocupação era assim ó: eu preparei a matéria assim pra 1ª aula. Daí eu cheguei assim e comecei a dar aula e eu controlando no relógio né. E fumando, fumava um cigarro atrás do outro. (...) Só eram duas horas de aula e eram 3 horas e meu Deus, vai terminar a matéria, o que é que eu vou fazer? Eu ficava apavorado né, e controlando no relógio e controlando a minha matéria (...) E aí eu ficava conversando com os guri e ficava. Eles começavam a perguntar e eu comecei a sentir que dava resultado né, e eu fui perguntar pros guris alguma coisa pra aliviar um pouco, pra esquecer um pouco essa coisa do tempo e aí foi. Foi, foi, foi o 1º, o 2º aí eu fui pegando as manhas e tal.” (Ademar, 50, Prof. de Automação Industrial, Relato de Vida, linhas 123-133)

O controle do relógio, o controle das horas, mas não do tempo. Era necessário esquecer o tempo para aliviar o nervosismo. Muda, novamente, a percepção do tempo.

E assim foi pegando as manhas e tal. Dar aulas e estar na sala de aula com os alunos já não era mais o bicho de sete cabeças, já não causava mais os medos da primeira vez. No entanto, as marcas e cicatrizes permanecem e são lembradas. Ficar apreensivo, ficar com medo não só pelo fato de dar aula pra um monte de gente, mas também das perguntas e questionamentos que os alunos pudessem fazer. É disso que se refere o Professor Ricardo:

“Eu fiquei meio apreensivo, pô, vou dar aula pra um monte de gente, já tinha a chamada, era um monte de gente, acho que uns 30 alunos. Eu fiquei com medo das perguntas que viessem me fazer. Pensei: será que eu sei tal coisa?” (Ricardo, 32, Prof. de Eletrônica, Relato de Vida, linhas 176-178)